segunda-feira, 26 de maio de 2014

             Trânsito: Uma Relação de Confiança

  Nesta manhã de segunda-feira, muito se comentou, e com muito pesar, a respeito dos jovens que perderam suas vidas no trânsito no último final de semana. A tristeza profunda das famílias, cujos entes queridos lhes foram tomados de maneira inesperada e estúpida. Sim. Morrer no trânsito é morrer de uma maneira estúpida. Muito diferente de um idoso, cuja vida se extinguiu aos poucos, ou de uma pessoa doente, para cuja doença não há cura. Acidentes de trânsito são estúpidos. E não poderia sequer chamá-los de "acidentes", ou de "fatalidades". A tragédia não acontece "sem querer". Pois sempre, em todos os casos, algum ser estúpido a causa.
  Tenho observado com atenção há um bom tempo o que se passa no trânsito à minha volta. Em muitos casos, me pergunto: "como pode ter acontecido um "acidente" neste cruzamento tão bem sinalizado???" Depois de muito refletir, cheguei a uma conclusão: o trânsito nada mais é que uma relação de confiança.
  Se eu estou trafegando na via de preferência, sigo em frente nos cruzamentos, pois confio que quem está tentando entrar na via, ou mesmo atravessá-la, vai aguardar a minha passagem, para só depois avançar. Quando estou atravessando a rua como pedestre, sigo em frente quando abre o sinal, pois confio que os motoristas vão permanecer parados até que o sinal se feche pra mim e se abra pra eles. É uma relação de confiança.
   O trânsito pode não fluir perfeitamente e com eficácia, até pela quantidade impressionante de veículos que temos nas ruas em determinadas horas do dia. Mas ele pode fluir com  segurança. Vou demorar mais pra chegar no destino? Certamente. Mas vou chegar. Porque fiz a minha parte. 
  O "acidente" só acontece quando alguém trai a relação de confiança e desrespeita o direito do próximo, seja ele condutor ou pedestre. No trânsito, assim como em outras relações humanas, está faltando mais respeito, mais confiança, mais caráter...
  É uma questão de caráter não dirigir alcoolizado. É uma questão de caráter não exceder a velocidade em áreas de risco. É uma questão de caráter respeitar a sinalização. Enfim, é uma questão de caráter respeitar a vida humana. 
  Se cada um tivesse consciência da dor das famílias que perderam os seus de maneira tão estúpida; se cada um de nós tivesse consciência de que nenhum de nós está livre de perder a própria vida ou de alguém que ama muito da mesma maneira estúpida, talvez as coisas fossem diferentes. Talvez houvesse mais cortesia, mais gentileza. Talvez os condutores desses passagem com mais frequência, tanto a pedestres quanto a outros condutores. Sim. Tenho visto isso também. Gentileza. Existem pessoas educadas, gentis e de caráter. Não são tão egoístas quanto a maioria. São mais humanos. E deveriam servir de exemplo para todos aqueles que ainda precisam de educação, no mais profundo sentido da palavra...