sábado, 14 de julho de 2012

A vida por um fio...

Dirigir faz parte da minha vida, do meu cotidiano. São dezenas de quilômetros diários a caminho ou na volta do trabalho. Não há um único dia na semana em que eu não precise viajar. 
Pra mim, sempre foi prazeroso, principalmente quando viajo de moto. Tenho com a minha moto uma conexão que jamais tive com carro algum. Nós duas somos uma, e tudo flui de maneira perfeita.
Apesar de ouvir, quase que diariamente, relatos trágicos (cada vez mais comuns) de acidentes fatais no trânsito, não sinto medo. Sou uma condutora responsável, não consumo álcool, respeito SEMPRE a sinalização e não faço ultrapassagens perigosas. Se estiver no limite do tempo, prefiro chegar atrasada a arriscar a vida. A minha, e a de outros usuários das rodovias.

Mas existe algo que tem me chamado a atenção ultimamente. Minha vida tem sido corrida, tenho dormido pouco. E não são raras as vezes em que o sono me embriaga, literalmente. Como se meus reflexos estivessem alterados, exatamente como ficaram nas poucas vezes na vida em que bebi de fato. 

Além da alteração nos reflexos, existe aquele instante, quando estou profundamente cansada, em que o cérebro simplesmente "apaga" por alguns décimos de segundo. Já tive esta experiência várias vezes nos últimos meses. Por sorte, o pânico que se instala em mim, quando me dou conta do que poderia ter acontecido naquele instante, me mantém alerta por mais um tempo. Às vezes, o tempo suficiente para chegar em casa em segurança.

O medo de ser vencida pelo sono e cair ali mesmo, no meio da estrada, já me fez tomar algumas atitudes extremas. A que considero mais inusitada, foi ter parado a moto ainda no início do trajeto Rio Pardo-Santa Cruz, em uma noite chuvosa e fria e tirar a roupa de chuva. Sim, andei uns 25Km debaixo de frio e chuva, apenas para me manter alerta. O frio é uma condição que me incomoda muito. E, por não estar nem um pouco confortável, não tinha um "cenário" adequado para me entregar ao sono. Naquela noite, cheguei em casa congelada, molhada, mas viva.

Não considero exagero algum falar sobre vida e morte. Pois o sono pode matar. Principalmente quando se trata de motoristas ou de pessoas que trabalhem com máquinas que ofereçam perigo aos operadores, caso não estejam plenamente alertas. E é esta consciência que me faz refletir sobre o quanto capaz eu sou de dirigir hoje, ou do quanto é necessário que eu durma ao menos uma ou duas horas, antes de seguir adiante. Muitos motoristas de caminhão, flagrados pela polícia rodoviária "costurando" na pista, e com sinais claros de embriaguez, nada apresentam no resultado do exame do bafômetro. Simplesmente porque realmente não consumiram álcool. Estão apenas "bêbados" de sono.Na ânsia de cumprirem seus prazos absurdos de entrega estipulados pelas empresas às quais prestam contas, põem sua própria vida e a de outras pessoas em risco.

Nestas minhas longas reflexões, pude concluir que de nada me adianta ser responsável com relação à sinalização e às leis do trânsito, se não sou responsável quanto a minha capacidade física e mental de conduzir um veículo. De nada me adianta ser responsável com relação a não consumir álcool antes de dirigir, se não dou a devida atenção às minhas necessidades de dormir o mínimo necessário.

Uma ou duas horas de sono. Pode ser a diferença entre viver ou morrer. Já vivi meus alertas com relação a isso. E não pretendo mais me descuidar.