A frase mais famosa de John Kennedy
tem ecoado na minha mente durante as últimas semanas: “Não pergunte o que seu
país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.” Na
verdade, tenho me perguntado o que eu posso fazer pela minha escola. EETCS. Que
fez e faz tanto por mim. Tenho me perguntado de que forma posso retribuir...
Há alguns meses venho pensando em uma
forma de unir as pessoas que queiram fazer algo de muito bom. Unir energias,
esforços e realizar pequenas ações que, somadas, pudessem resultar em algo
grandioso. Porque no ano em que completa seus 50 anos de existência, nossa
Escola Técnica certamente merece um presente assim.
São inegáveis as dificuldades que
cercam a educação pública. Tenho visto muitas pessoas desmotivadas, que já não
acreditam que o cenário possa ter qualquer evolução positiva. Nossos recursos
financeiros são escassos, não há dúvidas. Mas nossos recursos humanos são
infindáveis...e nestes, eu ainda tenho fé. E muita!
Somos a única Escola Técnica da
região que oferece os cursos técnicos de forma gratuita. A cada semestre,
formamos excelentes técnicos em mecânica, metalurgia e segurança do trabalho.
Sim. Nossa escola proporciona a muitas pessoas não apenas uma qualificação
profissional, mas a vontade de ir além. Muitos dos nossos alunos se formam com
um novo olhar pra própria vida, vislumbram todo um horizonte de novas
possibilidades. Se sentem capazes de buscar e vencer novos desafios.
Além disso, o Ensino Médio oferecido
pela nossa Escola, é reconhecido em toda a comunidade pela capacidade de prover
ensino de qualidade aos seus estudantes.
E acredite, não há nada mais
gratificante do que, de tempos em tempos, receber notícias de ex alunos que
conseguiram obter êxito nas profissões que escolheram. Nos faz sentir orgulho.
Nos faz esquecer todas as dificuldades que nós, professores, temos nos dias de
hoje. Dificuldades estas, do conhecimento de todos, mas que não terão espaço
neste desabafo. Porque não vim falar de mim, nem das minhas dificuldades
pessoais que, aliás, também são do conhecimento de muitos. Não. Porque eu tenho
me perguntado o que eu posso fazer pela minha escola, e não o que MAIS a minha
escola pode fazer por mim.
Existe um projeto. Bem aqui, dentro
da minha mente. Que tem sugado minhas energias, visto que eu não tenha a menor
ideia de como concretizar. Uma espécie de quebra-cabeças, que ocupa cada
segundo disponível que eu tenha pra pensar. Enquanto minha razão me alerta para
o fato de que esse projeto já me causou quase mais frustração do que eu posso
suportar, meu coração se nega a engavetar, pois ainda crê que é possível sim,
se eu for capaz de unir muitas pessoas no mesmo objetivo.
Três anos atrás, me
chamou a atenção uma casinha de madeira, aparentemente recém construída, que
estava sem pintura e sofrendo com as constantes chuvas daquelas semanas. Depois
de dias a observá-la, a caminho do trabalho, decidi que iria pintá-la. Como?
Não fazia ideia. Pois não possuía recursos pra isso, e sequer conhecia os
moradores. Depois de conversar com amigos mais próximos, e de terem me apoiado,
por mais estranho que aquilo pudesse parecer, decidi criar coragem e bater
naquela porta. Como eu suspeitava, a família que lá vivia não dispunha dos recursos
pra realizar a pintura: em pouco tempo as intempéries iriam comprometer a
estrutura da casa. Com o consentimento e imensa gratidão antecipada dos
moradores, iniciei a divulgação do caso e a busca por ajuda.
Ao lançar a ideia (no
mínimo, inusitada), me deparei com as mais variadas reações. Alguns foram
céticos, outros questionaram. Houve quem julgasse um absurdo e outros que
preferiram ignorar. Mas não me frustrei, de forma alguma. Pois foram muitos os
que abraçaram a causa e se dispuseram a ajudar. Das mais variadas formas.
Alguns doaram os poucos reais que podiam para a compra das tintas e pincéis e
cerca de 10 pessoas participaram pessoalmente daquele ato solidário. Enquanto
uns pintavam, outros iam cuidando do almoço. Aquela família recebeu de um grupo
de pessoas estranhas a possibilidade de preservar a durabilidade das paredes de
sua casa e um delicioso churrasco de domingo. Estávamos todos juntos, como uma
grande família.
E por que aquela casa?
Por que aquela família? Não faço a menor ideia. Foi só uma boa ação, possibilitada
pela união de muitas pessoas, e que surgiu de uma vontade imensa, para a qual
jamais encontrei explicação. Gratidão, foi o que senti. E pude ver o mesmo
sentimento no semblante de cada um que pôde fazer parte daquilo.
Por que isso me vem à mente neste
momento? Porque recentemente, um amigo muito querido me disse: “Não desiste do
projeto! Lembra quando tu quis pintar uma casa? E não sabia exatamente como
fazer? Tu, sozinha, não conseguiria. Eu passo por lá todos os dias, vejo ela
pintada e lembro do que a união das pessoas é capaz de fazer. Se tu conseguiu
fazer pela casa, é possível fazer pela escola.”
O projeto de captar e reutilizar a
água das chuvas para fins não potáveis surgiu em uma aula em que a ideia era
estimular meus alunos a criarem projetos de sustentabilidade para a nossa
Mostra Técnica EETCS, que acontece em Novembro.
Por que não criar um projeto e colocá-lo
em prática? É por não dispormos de recursos financeiros? É porque vai ser
difícil e dar muito trabalho? Ou será porque não é o meu trabalho e portanto
não vou receber nada por isso? Será utópico? Será inútil?
Já ouvi muitos comentários frustrantes.
Mas simplesmente me nego a aceitar. Assim como a casa a ser pintada, este
projeto é uma meta que não será engavetada. Enquanto houver uma esperança, sigo
na luta. E convido a todos que em algum momento da vida tiveram o privilégio de
fazer parte da família EETCS a colaborarem, da forma que puderem, para que este
projeto se torne realidade.
E se os alunos que fizeram parte
destes 50 anos de história decidissem se somar nesta luta? E se conseguíssemos
a atenção do prefeito? Do governador? E se conseguíssemos parceria com alguma
empresa? E se...?
Se todas as possibilidades acima
fossem alcançadas, este projeto passaria de utópico a real, muito rapidamente. E
a nossa Escola Técnica passaria a ter os reservatórios pra reaproveitarmos a
água das chuvas. E o laguinho com os peixes. E a roda d’água no formato da
nossa logomarca. Com luzes de led, para que à noite possa ser possível
visualizar de longe o brilho que a nossa Escola tem. Exatamente como na minha
mente. E no meu coração.
Eu posso simplesmente me sentar e
lamentar as dificuldades que nos cercam? Claro que posso! Mas também posso me
levantar e, com as poucas forças que me restam, sair em busca de ajuda pra
tentar melhorar as coisas.
E eu escolho sair da minha zona de
(des)conforto e ir em busca de mais pessoas que estejam dispostas a agir contra
todas as probabilidades, em nome de algo muito maior, que possa se tornar
benefício para toda uma comunidade escolar. Não só em termos econômicos, mas
também como um grande ato de educação ambiental e exemplo real de
sustentabilidade. E um presente de Aniversário de 50 anos para esta escola que
já deu a tantos a possibilidade de uma vida melhor.
Sim. Eu ainda acredito. E fica a
pergunta:
Será que alguém mais acredita?